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Como as homenagens póstumas podem contribuir no processo de luto.
A morte de um ente querido, a mais difícil experiência da existência humana, dá inicio ao luto um processo natural, complexo e necessário à elaboração de perdas. É no processo de luto que passamos a ter senso da realidade e concretude da morte.
Assim como todos os sentimentos inerentes ao ser humano, é necessário viver o luto, para restabelecermos o equilíbrio interior. E, por se tratar de um processo subjetivo, cada um de nós tem um tempo próprio e uma forma particular de mobilizar mecanismos psíquicos e emocionais necessário à reconstrução e reorganização da própria vida.
A morte impõe a quebra dos vínculos que nos ligam às pessoas amadas e isso nos move na busca de uma nova forma de conexão com aqueles que perdemos. Encontrar em nossa vida um novo lugar para aqueles que se foram e ressignificar nossos vínculos é um passo fundamental na elaboração de nossas perdas.
Os rituais de despedida, assim como as homenagens póstumas são eventos muito importantes e contribuem para a reorganização psíquica e emocional no processo de luto dos indivíduos. Nos eventos de homenagens póstumas a pessoa afetada pela perda recebe aconchego e apoio de familiares e amigos.
As formas de vivenciar o luto, de realizar rituais de passagem e de se prestar uma homenagem póstuma, varia de acordo com a cultura e religião das pessoas.
Esses eventos representam marcos importantes que nos ajudam a deixar o outro ir e, de certa forma, nos autorizam a continuar vivendo mesmo sem a presença física daqueles que perdemos.
Quando perdemos alguém, buscamos novas formas de organizar e internalizar nossos afetos e vínculos e nesse processo as lembranças, o resgate de histórias e memórias são essenciais.
Nesse processo de ressignificação, a falta pode ser transformada em uma presença assimilada e assim podemos perpetuar o amor que não desejamos abandonar.
Nas palavras do poeta Drummond:
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
(Carlos Drummond de Andrade -1987)