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Deus nos dá pessoas e coisas,
para aprendermos a alegria…
Depois, retoma coisas e pessoas
para ver se já somos capazes
da alegria sozinhos…
Essa… a alegria que ele quer
(Guimarães Rosa)
Sempre que me deparo com essas palavras do mestre Guimarães Rosa, fico pensando quantas outras vidas eu precisaria viver, para aprender essa alegria que Deus pretendeu para nós.
Acredito que, em nossa cultura ocidental, sejam poucas as pessoas que tenham alcançado esse aprendizado. Me ocorreu citar uma pessoa: Sra. Mercedes Carrascal, mãe de Ricardo Boechat, na ocasião de sua lamentável morte. Lembro-me de um repórter relatar que, ao escutar o comentário de pessoas expressando sentimento de pena por ela, D. Mercedes teria respondido, em outras palavras, que não se sentia como digna de pena e, sim como uma mulher de sorte por ter tido um filho como Boechat, de quem tanto se orgulhava. Mais uma vez refleti e me dei conta dos quilômetros de distância que me separam dessa sábia mulher.
A palavra luto, do Latim LUCTUS, significa “dor, pesar, aflição”. E não poderia ser diferente. O luto advém das perdas e todas as perdas causam dor.
É certo que, enquanto humanos, nos vemos bastante embaraçados, constrangidos e, na maioria das vezes, com poucos recursos psíquicos diante da morte daqueles com os quais construímos laços de afetos.
A literatura nos apresenta o luto como um processo normal e esperado, em consequência ao rompimento de vínculos. Um movimento de elaboração psíquica da perda, sendo subjetivo e individual que exige uma elaboração singular, para que possa haver um desinvestimento paulatino naquilo ou naquela pessoa que se perdeu. Desinvestimento necessário para que se autorize novos investimentos. Entretanto, todo esse trabalho aponta para possíveis dificuldades na superação de perdas.
É certo que a morte de um ente querido desencadeia o vazio existencial e que é necessário ressignificar o processo de perda. Mas ressignificar não pode ser entendido como o preenchimento do vazio e, sim como uma possibilidade de se promover lembranças saudáveis e significativas aos que ficam.
E é essa a proposta do BioParque: Trazer leveza e um novo olhar à questão mais angustiante de nossa condição humana, a morte… Cultivar lembranças, preservar histórias e valorizar a vida.
A experiência oferecida pelo BioParque corrobora de forma positiva com o trabalho de luto e com o enfrentamento da morte. A ideia de integrar as cinzas do ente querido à árvores individualizadas, permite manter viva não somente a memória dos entes queridos, como, também, possibilita novas significações que podem contribuir de forma positiva ao processo do luto e favorecer o repensar sobre o que é estar vivo.
De acordo com a Dra. Simone Borges de Carvalho, psicóloga e consultora do BioParque, o processo do luto exige uma construção de novos sentidos requerendo um trabalho de assimilação da nova realidade que se impõe, ou seja, a da ausência permanente de um ente querido. Isto nos permite compreender que a experiência proposta pelo BioParque oferece meios de elaboração da perda. Deste modo é possível localizar um ponto de convergência entre a elaboração do luto e a experiência do BioParque que se encontra no campo da linguagem. É somente a partir da palavra, do campo da linguagem, do campo simbólico que o trabalho de luto pode se desenvolver e oferecer elaborações que dizem respeito à perda sofrida. Deste modo, o que se oferece através da homenagem de ente querido que faleceu é uma oportunidade de se dizer desta perda de diversas formas.
A proposta do BioParque foi, ainda, objeto de análise de profissionais do meio acadêmico e da área de saúde que, em suas especialidades, lidam com o luto. No entendimento desses profissionais a proposta do BioParque contempla as exigências para a elaboração do luto de forma positiva contribuindo, significativamente, para se evitar o luto patológico.
A possibilidade de se fazer o resgate de histórias de vidas de quem se foi, contemplada e cultivada diante do crescimento de uma árvore é um ponto destacado pelos profissionais. Destacam, também, a saudável relação do ato de acompanhar a planta; seu crescimento, desenvolvimento e florescer, com a prática do cuidado o que, para os familiares é perdido após a morte.
A possibilidade de “contação de histórias e causos” que faz parte da cultura mineira é apontada, também, como fator positivo, na medida em que ajuda a manter vivas as memórias das famílias.
Comentam que a ação de se manter uma urna com as cinzas em casa ou em um cemitério estará sempre acompanhada de representações carregadas de tristeza, uma vez que reafirmam a morte, assim como os tradicionais rituais de despedidas como os velórios. Já a ação de se plantar uma árvore que será cuidada em um parque ecológico, estará carregada de representações positivas vinculadas à vida.
Sobre a aquisição dos serviços BioParque, revelam não se tratar da compra de um produto, mas de um processo complexo de ressignificação da dor de se perder alguém. O plantio da semente até a fixação da árvore no parque, as homenagens e os ritos reconstruídos, prometem trazer novos significados para a perda de um familiar e os processos de luto que a acompanham.
Acreditam que o ritual oferecido pelo BioParque auxilia na simbolização e elaboração da perda. Que a homenagem se constitui como um mecanismo de reparação, possibilitando o reconhecimento da importância e significado do outro na vida dos familiares que, muitas vezes, não pode ser demonstrado em vida. Rituais fúnebres, como os velórios, dão lugar a homenagens bem mais leves que focam nas boas memórias e na vida.
Por fim, enfatizam as possibilidades que o BioParque oferece para que os familiares encontrem um lugar em sua vida emocional, para seguirem em frente com suas vidas. Seguirem bem no mundo sem, no entanto, desistir de sua relação com a pessoa que se foi, relação essa eternizada simbolicamente pela árvore e mantida pelas histórias e as memórias afetivas. Considerando, ainda, as ações práticas que se impõem necessárias ao se constatar a morte (cemitério, funerária, velório), o BioParque, também, pode apoiar as famílias a lidar com essas difíceis questões.
MT